Uma crônica sobre a experiência Paul McCartney ao vivo
Ele é o maior entertainer do século vinte e um.
Essa é a premissa deste texto, amizades, com permissão- sempre!- para a discordância.
Mantenho a palavra em inglês, porque “animador” ou “artista” não traduziriam bem a “experiência Paul McCartney”. Assistir a um show do Beatle que carrega a tocha deste legado, é sair acreditando que o mundo é um lugar melhor. Sim. A música dos Beatles é definitivamente algo além de pop. E a presença de Paul a personificação do amor à música e ao que ela produz nas pessoas, ou pode produzir: esperança, alegria, tristeza, nostalgia (até do que não vivemos) e a energia de sentir que estamos vivos e irmanados por um sentimento que não sabemos o que é, mas faz acreditar que “tudo que precisamos é de amor”. Se eu tivesse que escolher apenas uma palavra pra descrever esta experiência, eu diria: transcendência. E não é esta a mais nobre missão da arte?
Respeito e Profissionalismo
A marca de Paul McCartney é o profissionalismo e, segundo os biógrafos, o controle sobre sua obra e sua imagem. Idiossincrasias a parte, Paul respeita como poucos o público. Por isso convida, a cada cidade brasileira pela qual passou, um grupo de estudantes de música para assistir à passagem de som. E se esforça pra falar português, se possível, com sotaque local. Por isso ele fez um show intimista em Brasília, pra surpresa de todos, e alegria de 500 fãs felizardos. Por isso faz 2 horas e meia de show, sem pausas e praticamente sem beber água. Alguma dúvida de que o próprio Paul se diverte enquanto está no palco? A resposta qualquer um que já foi ao show – sendo ou não fã dos Beatles – tem na ponta da língua. Perguntem ao Bituca, convidado para ir ao show pela equipe de Paul McCartney. Não, Milton não cantou com Paul, estava lá como eu e outras 42 mil pessoas, pra ver um Beatle ao vivo.
Paul trouxe a banda que o acompanha há muito tempo, há mais tempo que qualquer outra banda com quem já tenha tocado: Paul “Wix” Wickens (teclados), Brian Ray (baixo/guitarra), Rusty Anderson (guitarra) e Abe Laboriel Jr (bateria). Laboriel encantou o público brasileiro com uma performance irretocável na batera, tocando com uma mão apenas, resultado de uma lesão no pulso esquerdo. Um trio de sopros também fez parte das apresentações, trazendo o groove que já acompanha o artista há algum tempo na carreira solo. No repertorio, um apanhando equilibrado dos últimos 60 anos de músicas, o que significa dizer canções da carreira solo de Paul, do período dos Wings e, claro, dos Beatles. Com as esperadas performances de Hey Jude e Live and Let Die, mas sem direito, por exemplo, ao clássico Yesterday.
O fenômeno Paul McCartney
Da minha parte, posso dizer, que nada se compara, em termos de show, à experiência Paul McCartney em um palco. Desta vez me programei para ir nos dois dias em que ele se apresentou em Belo Horizonte. Na primeira, fui de pista, credenciada como imprensa e na segunda, na cadeira, assisti ao lado de minha filha adolescente. Ouvir Hey Jude com ela, que cantarolava alguns trechos da canção, é uma experiência que só um fã dos Beatles pode talvez entender, mas não explicar. “And any time you feel the pain, refrain, dont carry the world upon your shouders”. Thanks, Paul.
Como jornalista há três décadas, posso afirmar que tenho mais horas de show que muito urubu de vôo. Já vi muitos shows memoráveis e mais um punhado de shows esquecíveis, mas aqui estamos diante de um mito, amizades. De um mito que, pra nossa sorte, é um artista que gosta do público, que superou batalhas pessoais, que venceu o “ranço” da critica crucificado que foi pelo fim dos Beatles, que seguiu em carreira solo, tendo antes formado uma nova e bem sucedida banda, e que permanece no palco aos 81 anos. Porque ali é o lugar dele: transpirando música e fazendo do mundo um lugar melhor. Na esperança de que um dia vamos nos “libertar da escuridão que nos rodeia”.
Por duas horas e meia, é este o presente que Paul McCartney nos oferece.
Assistir ao show de um Beatle com a filha: não tem preço.
Set list do show de Got Back:
Can’t Buy Me Love
Juniors Farm
Letting Go
She’s A Woman
Got To Get You Into My Life
Come On To Me
Let Me Roll It
Getting Better
Let Em In
My Valentine
1985
Maybe I’m Amazed
I’ve Just Seen A Face
In Spite Of All The Danger
Love Me Do
Dance Tonight
Blackbird
Here Today
New
Lady Madonna
Fuh You
College/Bathroom
Jet
Mr Kite
Something
Obla Di Obla Da
Band on the Run
Get Back
Let It Be
Live and Let Die
Hey Jude
I’ve Got A Feeling
Sgt Pepper reprise/Helter Skelter
Golden Slumbers